“Monet à beira d´água” é uma exposição imersiva. Segue, a partir das novas tecnologias, as intenções do artista: submergir o olho do visitante na ilusão da paisagem sem margem e da pintura sem moldura. Dentro da caixa preta do espaço expositivo, iluminada pelo trabalho de projeção, o observador pode mergulhar num ambiente coberto por imagens flutuantes, caminhar sobre as águas ou afundar nos últimos raios do pôr do sol.
Esse espaço expositivo foi planejado como relevo. De um lado, o seu desenho segue a forma do lago de Giverny. Do outro, se inspira na escala das paisagens ao levantar estruturas em diversos formatos (planos, côncavos e esféricos) a fim de suportar as imagens projetadas. A partir dos trabalhos de manipulação digital, as pinturas de Monet, num golpe de ilusão, criam paredes líquidas, pisos flutuantes e um teto aberto para as revoluções celestes.
Se o olho é um lago, em “Monet à beira d´água”, a imagem é uma inundação. Enquanto a paisagem passa como água viva, a exposição se apresenta como um grande mergulho. 
Uma exposição em 8 passagens 
A exposição “Monet à beira d´água” foi pensada como uma viagem pelas pinturas de Claude Monet. A partir de uma experiência audiovisual por oito temas, que se desenvolvem à margem de rios (Sena, Tâmisa, Sandvikselva), mares (Canal da Mancha e Golfo de Gênova) e lago (Giverny), o público pode percorrer paisagens que mudam como a água que corre, mergulhar em um abismo de luz e cor, sentindo, como queria Monet, “as impressões dos efeitos mais fugazes”.
Uma viagem de trem
Partindo da Estação Saint-Lazare, Monet pinta a rota Paris-Argenteuil com as estações cobertas por nuvens de vapor e fumaça, neve e nevoeiros, em busca de flutuações na “luz e no ar que variam sem parar”.  Atravessando pontes à beira do Sena em dias de verão e inverno, ele chega até Londres para pintar “aquela atmosfera única do Tâmisa”. É uma viagem no rastro de nuvens e nevoeiros que mastigam a luz e transformam paisagens.
Campos e moinhos 
Na rota das colheitas, Monet segue à beira d´água. Atravessa as plantações de cereais em Chailly e Giverny, e de papoulas em Argenteuil e Vétheuil, em busca do ciclo da vida às margens do Rio Sena. Nos campos, à luz do sol, pinta o trigo e as flores como se fossem obras do tempo. Chegando na Holanda, Monet acompanha as margens do Rio Zan, do Canal Onbekende e a Costa de Haia para colher ventos nos olhos dos moinhos e cores nas pétalas das tulipas. Nessa viagem através dos ciclos do tempo, ele se detém na margem do Rio Epte para ver a dança dos choupos nas proximidades de Giverny.  Enquanto isso, o tempo corre como o vento…
O mar e a luz
Nas viagens de Monet, a rota mais frequente é trilhada na costa da Normandia. Na Boca do Sena, ele cresce e aprende a pintar a paisagem. Em Le Havre, Monet vê o sol nascer e batiza a “impressão” com água e luz. É lá que também deixa seu epitáfio: “quando eu morrer quero ser enterrado numa boia”. De passagem pelos portos de Honfleur e Fécamp, observa o sol afundar nas águas e o farol se levantar à sombra da noite. Atravessando os penhascos de Pourville e Varengeville, segue caminhos de trigo em fuga para o mar. Chega nas falésias de Dieppe, Étretat, Valmont e Belle-Île para pintar as ondas de água e luz quebrando nas pedras.  Na famosa praia de Trouville, registra os dias iluminados de verão, mas na viagem para a Itália, Monet deixa parte de seu coração pintado no Grande Canal. O sol morre em Veneza.
Passeio pelo lago 
O passeio pelo lago é a mais longa viagem de Monet. Em Giverny, o pintor faz uma jornada dentro de seu próprio jardim, seguindo os reflexos de luz que cintilam na lâmina d´água como o aço dos trilhos. Durante 29 anos, ele atravessa o Arco de Rosas como túneis para o sol, as Pontes Japonesas como passagens no tempo, acompanha os Salgueiros debruçando-se na margem, e Ninfeias flutuando no espelho d´água em busca da “aparência que muda a cada momento com os reflexos do céu”.
Arquitetura do tempo
Caminhando pelas margens de rios e mares, Monet também pinta as metamorfoses da pedra. “Tudo muda”, dizia ele. As construções trocam de pele nos ciclos do dia e das estações, como as plantações de trigo que ficam manchadas pelas cores da aurora e do crepúsculo. Nesse ritmo, a Catedral de Rouen, as Pontes de Londres e a Basílica de Veneza encenam o milagre da transfiguração pela luz e pela sombra à beira d´água.  Oferecem para o pintor, que olha através das horas abertas do dia, alguns instantes de vida nas imagens que nascem e morrem pela passagem do tempo. A vida é uma impressão… 
Horizonte nevado 
Percorrendo os caminhos brancos para ver os efeitos de luz nas diversas faces do inverno, Monet segue a linha Paris-Le Havre beirando o Sena congelado. Pintando estradas nevadas e nevoeiros densos sobre a lâmina do rio, raios de sol atravessando o céu e quebrando gelo, Monet segue em busca das “impressões dos efeitos mais fugazes”. Na ânsia por ver o que o tempo frio tem para lhe ensinar, ele chega a prolongar a rota até a Noruega para pintar “o temível norte”. 
Paisagens “en vert”
A rota das paisagens verdes parte de Barbizon e segue pela linha Paris-Le Havre, subindo o Rio Sena até o Canal da Mancha e, depois, fazendo um grande desvio pela flora mediterrânea do Golfo de Gênova. Em busca da luz que alimenta a casca da natureza, Monet segue as trilhas silvestres ou os passeios dos jardins. Segue seu destino por caminhos pavimentados perseguindo “o silêncio colorido” e “o mais ínfimo pedaço de cor”, colhendo as impressões do tempo que se perdem como a água de um rio que corre.
Flores de tinta
Caminhando pelas margens do Rio Sena, em Argenteuil e Vétheuil, Monet deixa sua pintura florescer. Como um beija-flor, aproxima-se dos canteiros à beira d´água e sopra seu pedido: “Eu gostaria de pintar como os pássaros cantam”. Os pássaros, como as flores, são sensitivos: prenunciam a passagem do tempo. E para pintar como um pássaro, Monet usa a flor como seu terceiro olho: através dela, vê o retrato do tempo na vida breve; nas “aparências que mudam a todo momento”. Em Giverny, ele cultiva pinturas seguindo a luz na pele da tulipa e na carne da alcachofra.  E lá, entre o perfume da papoula e o sorriso da ninfeia, ele finda sua vida numa viagem doméstica: afunda os olhos no espelho d´água para atravessar o abismo de luz. Deita numa cama de crisântemo cercada de girassóis e deixa suas impressões com tinta à beira d´água. A vida é um instante que passa…

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